Ignorar o óbvio.

Ano após ano, especialmente no período de verão, vem à tona o drama do abandono de animais. O ano de 2017, não foi excepção.
Muito se fala, muito se critica, mas na realidade pouco ou nada se faz para contrariar esta tendência de negligencia e ignorância no que à detenção de animais diz respeito. Afinal, estas são as verdadeiras causas do abandono.

Os Tecnocratas, com o dom da palavra ( ou nem por isso ), dotados de desfasada sapiência, identificam causas, propõem medidas e, como em muitas outras áreas da nossa sociedade, constroem legislação pouco adequada à realidade.

Em recente reportagem da SIC, “fiquei a saber” que a causa recente para o abandono de animais , imagine-se, é a legislação inerente aos direitos dos animais, que devido a falta de sensibilização / informação junto dos detentores, leva a que estes abandonem os seus animais. Primeiro, reclamam-se por leis adequadas à protecção e bem estar animal, agora são estas mesmas leis que “estão na origem” dos abandonos. Só mesmo não conhecendo a realidade no terreno e o perfil dos detentores de cães se pode avançar com tal justificação.

Por outro lado, o fundamentalismo de alguns grupos radicalizados e apelidados de “Animalistas”, com agendas escondidas (pessoais e colectivas), dotados de abordagens extremadas na defesa dos direitos dos animais, pouco contribuem para uma detenção responsável de animais de companhia. Directamente ou indirectamente, geram conflito e sentido critico contra tudo e todos que tenham a veleidade de desviarem um milímetro, o foco, das suas crenças e verdades absolutas.

Infelizmente, as bandeiras das Corridas de Toiros ( com as quais não me identifico em momento algum ) os Canis de Abate, entre outros, tem servido para angariar seguidores que não sabem o que verdadeiramente seguem. Em voz alta e em “Cãominhadas” ao jeito de Woodstock, apela-se de forma efusiva, aos direitos dos animais. No entanto, ano após ano, apesar destes esforços ( ou estilo de vida ), o cenário do abandono e maus tratos, repete-se.

As Associações de Animais Abandonados, a quem tiro o chapéu ( em alguns casos é certo ), de corpo e alma, tentam gerir o que não é passível de ser gerido. Todos dias chega o telefonema que com ele traz a noticia de mais um cão errante na rua y, mau trato ou familia desesperada que chegou à conclusão de não poder ficar mais com o cão fofinho de alguns meses atrás.

Os potenciais adoptantes, na sua grande maioria, não passam de pessoas que querem arriscar passar pela experiência de ter um cão. Este ultimo, tem que preencher um conjunto de requisitos que invariavelmente não vão ao encontro daquilo que é a verdadeira essência de um cão. Na tentativa desesperada de salvar a vida de um animal ou dotá-lo de uma melhor condição de vida, colocam-se cães de forma experimental em casa de possíveis futuros adoptantes. Infelizmente, a taxa de rejeição do cão, é alta. Em outros casos, por vergonha, a devolução não acontece e o destino do cão acaba por ser desconhecido.

As parcerias destas Associações com Escolas de Treino Canino, Comportamentalistas, etc é ténue ou quase inexistente. Porquê?…As Associações referem que as pessoas mal tem dinheiro para sustentar o cão, quanto mais gastar dinheiro na sua educação. Se assim é, o problema do abandono ou rejeição do cão, torna-se eminente. Há quem pense ( respeito ) que vale a pena arriscar, no entanto, a rejeição frequente de um cão, vai aumentar a dificuldade da sua futura reintegração. É importante minimizar este ciclo vicioso.

Resumindo, continua-se a ignorar o óbvio. O que é ignorar o óbvio?

Ignorar o óbvio, é não perceber o interesse escondido da industria financeira em torno do chamado “Pet”;

Ignorar o obvio, é não querer apertar os requisitos para um qualquer cidadão ser detentor de um animal de companhia;

Ignorar o obvio, é não dotar os detentores de animais de companhia de um conhecimento efectivo dos seus deveres e obrigações;

Ignorar o obvio, é pensar que facilitar o acesso à detenção de um cão, através de regalias sociais entre outros, minimiza o abandono. Quanto maior for o facilitismo, maior é a irresponsabilidade na decisão de ter um cão;

Ignorar o óbvio, é penalizar raças de cães ( criando fobias na sociedade ), ao invés de penalizar a detenção negligente;

Ignorar o óbvio, é alimentar a ideia que Veterinários têm que trabalhar “pro bono” ao invés de respeitar o conhecimento ( com custos e investimentos elevados ) que pode salvar a vida daqueles que tanto gostamos;

Ignorar o óbvio, é pensar que a Educação, Sociabilização e Obediência de um cão se constrói com “pacotes de aulinhas”, com dicas ou punições, ao invés de um investimento mínimo de 2 anos na consolidação da aprendizagem geral de um cão e respectiva integração em sociedade;

Ignorar o óbvio, é não questionar quem lida no terreno com os problemas apresentados pelos donos, detentores, tutores de cães, ao invés de se tirarem ilações de conversas circunstanciais de corredor.

Ignorar o obvio, é não perceber que há interesses em deixar tudo como está…afinal, a ignorância e as guerras sempre “alimentaram” muita gente…enquanto a maior parte, sofre!…Neste caso, os animais.

Nota: A imagem de "capa" usada neste texto, trata-se de um “screen shots” de uma reportagem televisiva da SIC, não havendo qualquer intenção de uso abusivo da mesma, critica à estação televisiva, reportagem em causa e ou seus intervenientes.

Claudio Nogueira
( Coordenador Técnico )

www.facebook.com/OesteDOGCamp
www.youtube.com/c/ClaudioNogueira